A escrita como faca e outros textos

Annie Ernaux

Fósforo, 2023

Eu pretendia provar, portanto, que é realmente “de mim” que se trata. Da mesma maneira, ao reler meu diário pessoal, por exemplo a parte que foi publicada com o título Se Perdre, sei que se trata da mulher que eu era naqueles anos e, em muitos aspectos, talvez ainda seja. Mas, por outro lado, sinto a escrita como transubstanciação, como a transformação daquilo que pertence ao vivido, a ‘mim’, em algo que existe completamente fora de minha pessoa. […] Mas essa transubstanciação não se dá por si só, ela é produzida pela escrita, pela maneira de escrever, não em um espelhamento do eu mas como a pesquisa de uma verdade fora de si. E - talvez seja uma maneira de ultrapassar o paradoxo - essa verdade é mais importante que a minha pessoa, que as minhas questões, que aquilo que vão pensar de mim. Ela merece, ela exige que eu corra riscos. Talvez eu até acredite que só se pode alcançá-la à custa do perigo…

Reunião de três textos de Annie Ernaux, que promove um mergulho em sua biografia e obra.

Em “Vingar minha raça” (2022) — discurso que proferiu ao receber o prêmio Nobel de literatura —, Ernaux apresenta uma valiosa síntese de seu percurso e de suas motivações e elenca os principais aspectos de seu projeto literário.

Na sequência, esmiúça anos de trajetória em “A escrita como faca” (2003), entrevista concedida ao longo de meses para o escritor francês Frédéric-Yves Jeannet. Ernaux dá detalhes dos conceitos marcantes de

sua obra e comenta, por exemplo, o que chama de “postura de escrita”, o método de exploração interior e exterior, social e individual que garante que o ato de escrever seja sua arma, como uma faca.

Por fim, “Retorno a Yvetot” (2012) é uma conferência dada por Ernaux na pequena cidade onde viveu com os pais até se mudar para cursar a universidade.

Fotos e outros documentos pessoais selecionados por Ernaux fecham a coletânea.

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