Um Ocidente sequestrado

Milan Kundera

Companhia das Letras, 2023

É responsabilidade da Europa Central, portanto, se o Ocidente sequer se deu conta de seu desaparecimento? Não completamente. Apesar da fraqueza política, no início de nosso século a Europa Central se tornou um grande centro de cultura, talvez o maior. Quanto a isso, é bem conhecida hoje a importância de Viena, mas nunca é demais lembrar que a originalidade da capital austríaca é impensável sem o pano de fundo dos outros países e cidades que, de resto, também participaram, com a própria criatividade, da cultura centro-europeia como um todo.

A publicação de "Um Ocidente sequestrado" no Le Débat, em novembro de 1983, soou tanto como um apelo quanto uma acusação. Um apelo à defesa da Europa Central (Hungria, Polônia, Tchecoslováquia), que do ponto de vista cultural sempre pertenceu ao Ocidente, mas que, por seu regime político, era vista pelas próprias nações ocidentais como parte do Oriente. Uma acusação, porque o triste destino dessas "pequenas nações" indicava também os rumos trágicos da Europa.

Traduzido para diversas línguas e com imensa repercussão internacional à época, o texto demonstra toda a habilidade argumentativa de Milan Kundera e é marcado pela voz pessoal e angustiada do autor, que já se destacava como um dos grandes escritores europeus. Além do ensaio, apresentado pelo historiador Pierre Nora, este volume ainda inclui o discurso do jovem Kundera no Congresso dos Escritores Tchecoslovacos de 1967, em plena Primavera de Praga, com uma introdução do cientista político Jacques Rupnik.

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