| reportagem |

“Este livro é um silêncio estrondoso”

revista Quatro Cinco Um, out. 2021

Fazia cinco anos que Clarice Lispector (1920-77) havia publicado seu último livro, A hora da estrela, e em seguida morrido, quando o filósofo e crítico literário paraense Benedito Nunes sintetizou em uma formulação precisa as três histórias da novela da autora: a primeira era a de Macabéa, a segunda, a do narrador Rodrigo S.M., que reflete a sua vida na da personagem, “acabando por tornar-se dela inseparável, dentro de uma situação tensa e dramática de que participam e que constitui a terceira história — a história da narração mesma, ou seja, o curso oscilante, digressivo que ela tem, a preparar a sua matéria, a retardar a sua fabulação”.

Desde o ano passado as celebrações do centenário de nascimento da escritora se prolongam. A partir do dia 23 de outubro, o Instituto Moreira Salles (IMS) inaugura em São Paulo a exposição Constelação Clarice com quadros, fotos e objetos da autora e outras obras de artistas contemporâneas suas. Ao lado da exposição, uma das principais iniciativas das comemorações foi o lançamento, em maio, dos manuscritos de A hora da estrela em edição numerada de grande formato pela francesa Les Saints Pères (no Brasil, SP Edições).

“Clarice Lispector e seu lado pintora”

caderno Eu &, Valor Econômico, out. 2021

Quando, no início de 1922, o navio Cuyabá aportou em Maceió, a pequena Haia, que vinha a bordo, contava um ano de idade, segundo o passaporte familiar dos Lispector, imigrantes que fugiam da violência e da pobreza na Ucrânia. Haia virou Clarice, Clarice se tornou a escritora brasileira Clarice Lispector, que mentia a idade e cujos documentos por vezes confundiram o dia correto de nascimento, 10 de dezembro de 1920.

Esse relaxamento em torno de uma data oficial vem a calhar na celebração do centenário da escritora, que começou em 2020, com reedição de obras suas e falas de estudiosos, e alcança agora um de seus momentos mais interessantes. Trata-se da exposição “Constelação Clarice”, promovida pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que, ao lado da Fundação Casa de Rui Barbosa, guarda o arquivo da escritora. A mostra será aberta amanhã (23) em São Paulo e vai até 27 de fevereiro de 2022.

“Me escrevam, me escrevam”

revista Quatro Cinco Um, set. 2020

Clarice não dizia sua idade, e apenas a data do falecimento está gravada na lápide no Cemitério Comunal Israelita do Caju, no norte do Rio de Janeiro: 9 de dezembro de 1977. Estabeleceu-se, na maioria dos documentos emitidos depois de sua família chegar ao Brasil em 1921, que foi no 10 de dezembro de cem anos atrás que ela nasceu, em Tchechelnik, um lugarejo na Ucrânia, quando seus pais fugiam das perseguições aos judeus. E é por isso que, neste 2020, ações como a reedição de sua obra completa marcam um ano de comemorações.

O que aconteceu no período de 57 anos entre esses dois dezembros foi reconstituído em biografias e biobibliografias, pesquisas acadêmicas, exposições, reportagens, inúmeras reiterações mais ou menos dos mesmos fatos e declarações, a partir dos primeiros anos depois de sua morte: a infância no Recife e a morte da mãe doente; a Faculdade de Direito, o casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente e a mudança para o exterior logo após a publicação do primeiro romance, Perto do coração selvagem, em 1943; Nápoles e o fim da guerra, Berna do “silêncio terrível” suíço…

“Os loucos do papel velho”

revista Quatro Cinco Um, mar. 2020

Túnel do tempo, reunião de fantasmas, parque de diversões sui generis: são muitas as metáforas que tentam traduzir a emoção de ter em mãos uma carta do poeta predileto do século 19, de ver-se diante de uma caixa com fotografias, diários, bilhetes de uma personalidade admirada, de imaginar como determinado pedaço de papel, pergaminho ou papiro foi escrito, assinado e usado como prova em alguma circunstância em tempos remotos e logrou chegar, sabe-se lá como, até os dias de hoje.

Os manuscritos autógrafos — o dicionário ensina: “escritos pela própria mão” — talvez sejam um dos objetos mais charmosos da onda memorialista que tomou o planeta desde o fim do século passado. Singulares e frágeis, anunciam de imediato um vínculo com a própria fisicalidade de quem os criou e invocam, como símbolo, uma espécie de culto laico do conhecimento.

“O segredo dos seus olhos”

caderno Ilustrada, Folha de S.Paulo, nov. 2019

Não sei dizer por que um homem chinês traria bordada no peito uma frase atribuída a Júlio César. De meias coloridas quase até o joelho, aquele homem debaixo da pirâmide de vidro me deixou aturdida.

O Louvre é uma algazarra de línguas e culturas —mais de 70% dos 10,4 milhões de visitantes do ano passado eram estrangeiros, sendo os chineses o segundo maior grupo, atrás só dos americanos.

No vaivém babélico, identifiquei naquele velhinho excêntrico um oráculo, trazendo em seu colete vermelho desbotado uma mensagem em latim sobre a minha sensação de visitar a exposição que celebra os 500 anos de morte de Leonardo da Vinci — “Vim, vi, venci”.

A excitação que me incutia certo misticismo fora provocada pela expectativa em torno da maior retrospectiva da pintura do renascentista —são 179 peças, entre pinturas, esboços e notas de Da Vinci e obras de mestres e discípulos.

“Biografia de político russo excêntrico beira a ficção”

caderno Ilustrada, Folha de S.Paulo, out. 2013

Eduard Limonov é um herói. Político de pouca expressão na Rússia e opositor do presidente Vladimir Putin, ele acumula façanhas de personagem da ficção. Gangues adolescentes, maratonas etílicas e tentativas de suicídio somam-se, em seu percurso aventuroso, a exílio, uma mulher ninfomaníaca, clandestinidade, meditação.

O russo, personagem de carne e osso, é protagonista de "Limonov", biografia vencedora em 2011 do prêmio Renaudot, o segundo mais importante da França. Quem narra sua história é o escritor e diretor francês Emmanuel Carrère, 55, de "O Bigode" e "Um Romance Russo".

Carrère, que participou em 2011 da Festa Literária de Paraty, incorpora à narração da vida de Limonov suas impressões sobre ele. "Não acredito em terceira pessoa para esse tipo de livro. Não acredito em objetividade", diz.

Revista Mais

revista customizada do Pão de Açúcar, editada pela Trip, 2009 - 2012

páginas de uma reportagem e um perfil publicados na revista

Revista Bravo!

Reportagens e edição, 2007 - 2013

Páginas da reportagem sobre os diários de guerra de Guimarães Rosa. Vencedora do Prêmio Abril de Jornalismo - Reportagem em 2008