Direito à vagabundagem: As viagens de Isabelle Eberhardt

Isabelle Eberhardt

Org. de Paula Carvalho

Fósforo, 2022

Quem conhece o valor e o gosto delicioso da liberdade solitária (pois só se é livre sozinho) sabe que o ato de partir é o mais corajoso e mais belo de todos. Felicidade egoísta, talvez. Mas felicidade, para quem sabe aproveitá-la. Estar sozinho, estar livre de necessidades, ser ignorado, sentir-se estrangeiro e em casa em todos os lugares, e caminhar, solitário e magnânimo à conquista do mundo.

Nesta coletânea de textos da viajante Isabelle Eberhardt, precedida por um ensaio da pesquisadora e organizadora Paula Carvalho, temos a chance de mergulhar na mente dessa personagem que desafiou os limites impostos por sua nacionalidade, seu gênero e seu tempo e de descontaminar nosso olhar das vivências ocidentais, capitalistas, coloniais, sexistas e binárias para compreender a vagabundagem como uma narrativa de experimentação da liberdade.

Nascida em 1877 numa família russa radicada na Suíça, Eberhardt viveu em Genebra até o início da vida adulta, quando se mudou para a Argélia. Errante por excelência, perambulou pelo norte do Magrebe africano,

descrevendo nos textos que publicava na imprensa francesa o dia a dia e as particularidades da região sob o domínio da colonização francesa.

Trajando as vestimentas argelinas tradicionais que a tornaram conhecida, e com vívidas críticas à Europa, Eberhardt deixa clara sua identificação com os costumes árabes, tendo mais tarde inclusive se convertido ao Islã.

Casada com o soldado Slimène Ehni, ela ora assinava seus textos como Isabelle Eberhardt, ora como Mahmoud Saadi, sem nunca pedir licença para exercer o trânsito entre etnias, identidades de gênero e religiões que mostra justamente o que essa mulher curiosa reivindicava: o direito de ir e vir; o direito à vagabundagem.

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