“A restituição da interioridade”
Djaimilia Pereira de Almeida
O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo
Todavia, 2023
A restituição da interioridade a sujeitos negros luso-afro-brasileiros e negros diaspóricos está acontecendo em direções diferentes e complementares, tantas quantas são as sensibilidades e inteligências dos que a assumem. Vejo isso no meu trabalho literário, nos personagens que criei. O que todos nós estamos fazendo não é uma tentativa de dar a nós mesmos um passado a posteriori, para emprestar a expressão de Nietzsche. […] Estamos, sim, dando uma mente a nós mesmos, ou estamos dando a nós mesmos uma mente que sempre esteve aqui.”
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No texto que dá título ao volume, a autora mescla ensaio cultural e pessoal para entender seu espaço no mundo como uma das grandes escritoras da atualidade. Fosse há cinquenta anos, ela estaria onde está, sendo premiada e traduzida mundo afora? A pergunta não é fora de propósito nem dada a questionamentos mais ligeiros.
Com dolorosa consciência, Djaimilia Pereira de Almeida reflete sobre seu lugar (como mulher e negra) numa cena em que tais traços de gênero e raça são saudados com efusão, mas muitas vezes de forma superficial, quase publicitária, escamoteando o caráter ora movediço e, portanto, profundamente instável, de ser uma mulher que escreve. Uma mulher negra que escreve.