Rachel Cusk

Segunda casa

Todavia, 2022

Mas o objetivo aqui é traçar um retrato de L: meus pensamentos sobre percepção e realidade são úteis apenas na medida em que expressam minha compreensão canhestra de quem e do que era L e de como sua mente funcionava. Eu desconfiava que a alma do artista - ou a parte da alma em que ele é um artista - deve ser completamente amoral e livre do viés pessoal. E, uma vez que a vida, conforme caminha, trabalha para reforçar nosso viés pessoal cada vez mais, como uma maneira de nos permitir aceitar as limitações do nosso destino, o artista deve permanecer especialmente atento de modo a evitar tais tentações e escutar o chamado da verdade quando ele vem.

M, escritora de meia-idade e de pouca expressão, mãe de uma jovem mulher, está em chamas. É o fogo, pelo menos, uma das imagens a que ela recorre para tentar explicar os acontecimentos que abalaram a vida pacata que leva ao lado do marido, Tony, na propriedade em que moram, às margens de um pântano. Quem incendiou a rotina familiar foi L, um

artista plástico que se hospeda na cabana em que M e Tony costumam receber artistas — a segunda casa. M está obcecada por L, cuja obra conheceu quinze anos antes em um episódio que transformou sua vida. Agora, deposita nele e em sua temporada no pântano expectativas diversas, que variam de suas ambições à percepção de sua própria vida em isolamento.

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